terça-feira, 29 de março de 2011

Quem quer dançar num rancho tem que esconder tatuagens e não pode usar piercings

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A representação de outra época deve ser a mais fidedigna possível nos ranchos folclóricos. Cabelos compridos nos homens ou unhas pintadas nas mulheres são outras das restrições impostas quando se enverga o traje.


Sempre que tem uma actuação com o seu Grupo de Danças e Cantares da Chamusca e do Ribatejo, Luísa Garrido tem que remover o verniz das unhas que habitualmente estão pintadas. A tatuagem é fácil de esconder porque está na barriga, mas quem as tiver num local mais exposto têm que as tapar. Quando lhe apetece fumar um cigarro, a escriturária retira-se para um local mais escondido e mata o vício sem ninguém ver.

As regras para os ranchos folclóricos que integram a Federação de Folclore Português (FFP) são rigorosas e são para cumprir. Enquanto estão trajados, os elementos dos agrupamentos folclóricos não podem ter piercings, pinturas, tatuagens, óculos de sol, relógios de pulso. Brincos, colares e pulseiras só em ouro, a imitar o antigo.

O presidente do Festival de Folclore Celestino Graça, Ludgero Mendes, explica que o objectivo é que a imagem que um grupo folclórico transmite, quando está em cima de um palco ou numa apresentação pública, seja tão fidedigna “quanto possível” relativamente ao que seria a imagem real da época representada. “O folclore constitui a matriz identitária de um povo”, explica o também vereador na Câmara de Santarém.


No Rancho Ceifeiras e Campinos de Azambuja as regras também são cumpridas à risca. Joaquim Amendoeira, ensaiador do grupo, anda “sempre em cima deles” para lembrar os mais esquecidos dos seus “deveres”. As raparigas não podem ter as unhas pintadas e os rapazes não podem ter o cabelo muito comprido. “Um deles anda agora com o cabelo comprido demais. Já o chamei à atenção várias vezes durante os ensaios que tem que cortar o cabelo, mas ele anda a fugir. Diz que o tapa com o barrete”, conta o ensaiador que é um defensor “acérrimo” das regras do folclore. “É importante que haja rigor porque estamos a transmitir o que se fazia antigamente. Somos como um museu ao vivo”, acrescenta.


Todos concordam que é importante manter as regras para preservar a tradição que o folclore representa. Segundo Ludgero Mendes, o distrito de Santarém tem aproximadamente uma centena de agrupamentos folclóricos sendo que cerca de 35 integram a FFP. Os grupos só integram a federação se obtiverem um parecer favorável do conselho técnico da FFP. A partir do momento em que passam a fazer parte da federação os ranchos são acompanhados regularmente por esse conselho técnico. “O parecer favorável do conselho técnico depende do nível de representatividade etnográfica e folclórica representativa da época e região representada”, explica Ludgero Mendes.

Luísa Garrido concorda que as regras sejam rigorosas e sejam cumpridas por todos. Na sua opinião a tradição da época que cada rancho representa deve ser cumprida. Joaquim Amendoeira tem orgulho no seu rancho folclórico afirmando que o considera “especial” tendo em conta o rigor com que se apresentam.

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