segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Estudo Sócio Cultural - Pesquisa e Recolhas

1 comentário:

  1. Urge fazer-se mais, para preservar a nossa identidade Cultural...

    Os objectivos do Rancho Folclórico de Benfica do Ribatejo são:

    1 – Preservar a cultura popular da freguesia de Benfica;
    2 – Representar e dignificar condignamente o folclore do Concelho de Almeirim e da
    Região do Ribatejo;
    3 – Ser fiel depositário das memórias orais;
    4 – Apresentar o trajar, costumes, usos, cantos, danças e formas de socialização da década compreendida entre 1925 / 1935.

    HISTÓRICO
    Benfica do Ribatejo está situada no concelho de Almeirim, distrito de Santarém, Província do Ribatejo, situada no centro sul de Portugal, nas margens do rio Tejo.
    O período temporal que representamos (1925/35) é caracterizado por uma agricultura quase rudimentar, onde imperava uma forte mão-de-obra na sua grande maioria feminina, predominando a cultura da vinha, trigo, centeio, olival e do arroz. Nos tempos actuais as culturas predominantes são a vinha, o tomate, o melão havendo também outro tipo de culturas mas não tão representativas.
    A palavra RANCHO vem precisamente dos ranchos dos trabalhadores rurais, isto é, do conjunto das pessoas que trabalhavam a terra, como por exemplo a vindima, a monda, a apanha da azeitona entre outros. Este termo ainda hoje é empregue para as pessoas que trabalham na agricultura.
    Desta forma, no ano de 1955 surge o primeiro rancho folclórico do concelho de Almeirim, precisamente em Benfica do Ribatejo, pela mão do grande folclorista ribatejano Celestino Graça, designando-se por Rancho Folclórico dos Pescadores de Benfica do Ribatejo. Este grupo era formado exclusivamente por pescadores pois o pensamento folclórico da altura apontava para grupos apenas com um traje e não com vários.
    A formação deste grupo foi feita através da recolha de memórias orais da comunidade piscatória da zona dos Cucos, Faias, Isabelinhas e Oliveirinhas, destacando-se as melodias da Valsa Danada, Cor Tão Bela e Cigana.
    Com a guerra colonial portuguesa, e porque a comunidade piscatória é muito unida o referido grupo cessou a sua actividade nos anos sessenta, no entanto no ano de 1979 o grupo é reactivado por um grupo de benfiquenses, adoptando então o nome de Rancho Folclórico de Benfica do Ribatejo.
    Com a reactivação introduziram-se novos trajes, danças, pois para além do reportório dos pescadores foi feita nova recolha de memórias orais, desta feita junto das pessoas que trabalhavam na agricultura.
    Estas características tornam o grupo actual um digno representante do folclore ribatejano, apresentando um reportório que retrata a vida do trabalhador do campo e do pescador do Tejo.

    É membro, desde a sua fundação, da Federação Portuguesa de Folclore.

    Filiado no INATEL como Centro de Cultura e Desporto.

    Membro da Unesco - C.I.D – International Dance Council.

    No plano internacional destacamos as participações nos seguintes eventos:

    1983 – Festival internacional de Billingam (England)

    1986 – Festival internacional de Apiro (Italy)

    e 1993 – IV e V festivais mundiais de danzas folkloricas de Palma de Maiorca (Spain)
    1996 - Saga do Mandorllo in Fiorre Agrigento - Sicilia

    2002 – 3rd International Cukture and Art Festival of Bűyűkçekmece (Turquey)

    2003 e 2005 – IX e X festivais mundiais de danzas folkloricas de Palma de Maiorca (Spain)
    2006 V.International County-Wandering Festival Hungria Julho de 2006

    2006 English Miscellany Festival– Londres - St Albans Inglaterra Julho de 2006

    De referir que o grupo alcançou alguns prémios nestes festivais ao nível da dança, canto e traje.


    PORQUE SE DANÇA DESCALÇO?

    A década representada pelo grupo caracteriza-se socioeconomicamente por um período de recessão económica, associado a tempos de escassez alimentar e de dinheiro, pois estava-se no período compreendido entre a 1ª e 2ª Guerras Mundiais para além das convulsões na vizinha Espanha.
    É importante registar que deste período existem poucas fotografias para documentar o nosso trajar, mas das poucas que se tem as pessoas de uma forma geral encontram-se descalças.
    Desta forma e através dos testemunhos orais, as pessoas de então tinham pouco dinheiro e desse pouco a grande maioria era para comida sobrando quase nada, daí que tinham de poupar no calçado assim como na própria roupa que era usada até estar completamente rota. Dado o tipo de calçado utilizado pelas mulheres, os tamancos de pau, estes não eram adequados para dançar na terra batida daí que se descalçassem para dançar, havendo uma por outra que o fizesse. Os referidos tamancos também eram utilizados no Inverno para irem e virem do trabalho, andando a trabalhar descalças.

    TIPOS DE DANÇA

    A nossa região caracteriza-se por diferentes tipos de dança sendo estes:

    1 – Verde Gaio – a dança mais característica do Ribatejo, caracterizada por um sapateado forte, normalmente escovinhado, próprio das gentes que trabalham nas planícies do Ribatejo, onde alinha do horizonte está longe e é necessário calcorrear grandes distâncias, fortalecendo assim as pernas dos bailadores. De todas as danças, esta é a que tem maior ligação à terra, pois pode tornar-se rude como as pessoas que lavram e semeiam os campos. Neste tipo o grupo apresenta as seguintes danças: “Corre-corre”, “Este verde gaio é meu”, Verde gaio de Sta Marta”, “Abracinho da Ti Leonor”, “mondas” e “Olaré Siu”;

    2 – Vira – segundo a tradição, o vira nasceu no norte do país e foi gradualmente descendo pelo mediante as imigrações da população. No entanto o vira do Ribatejo, segundo os estudiosos da matéria, é um vira afandangado e não um vira puro como no Minho, na medida em que no Ribatejo o vira tem estribilho, o que não sucede na outra região.
    O vira tem marcação simples, com o compasso ternário, cadenciado, transporta os bailadores para outro plano onde o bambolear dos braços transmitem alegria à dança simples. Neste tipo apresentamos: “vira picado”, “bate o pé no chão”, “tu tens uma cor tão bela”, “vira da fonte santa”, “à sombra da cana”, “morena “, “rendilheira”, “as rolinhas”, “vira do pescador”, “velho marinheiro”, “vira das saias” e “saudades”;

    3 – Bailarico – o bailarico é uma dança simples onde homem e mulher dançam frente a frente, olhos nos olhos, entregues a uma certa volúpia e as cantigas são quase sempre ao desafio, entrando-se em tom de brincadeira na forma de conceber os versos. Apresentamos: “bailarico dos pescadores”e “bailarico dos foros”;

    4 – Fadinho – dança de roda, batida de frente com o par, geralmente com um ritmo mais lento e outro mais rápido. O compasso é marcado pelo estalar dos dedos em ritmo certo e cadenciado. Braços levantados até à altura dos ombros e pernas firmes no sapateado, demonstram ser uma dança de terra. dançamos: “fadinho das lezírias”, “ó minha rica tia Maria” e “ceifeiras”;

    5 – Modas de Roda – estas modas são as mais simples, bucólicas, que surgem no folclore, pois derivam da simplicidade dos bailadores, com compassos simples, onde quem não tinha grande jeito para dançar entrava.. em qualquer local se faziam as rodas, para isso bastava que as raparigas o quisessem, projectando a voz nascia a melodia e com ela a dança. A simplicidade destas rodas constata-se nas danças recolhidas, sendo estas: “laranjinha”, “cigana”, “ò cara linda”, “assim é que é”, “água da ribeira”, “as borboletes”, “à volta do rio”, “trai lari lo lé”, “tecedeira”, “rola o pombo”, “o galo saiu à rua” e “bandeio”;

    6 – no entanto há outras danças e cantares no Ribatejo que não se enquadram em estilos definidos. Tem-se música de inspiração erudita e outra que foi ficando por aculturação. No entanto não deixam de ser ribatejanas pela força imprimida no tocar, dançar e cantar. Deste tipo temos “passo largo”, “moda a dois passos”( de inspiração erudita), “valsa danada”, “fado da pouca pressa” e “fandango”(deriva de um aculturação da vizinha Espanha).
    Cada dança tem a sua própria melodia, assim como versos inspirados nas coisas simples do dia a dia ligadas ao trabalho, embora a grande maioria se refira de males do coração, são como um desfiar de mágoas por não ser correspondido no amor. Torna-se difícil fazer uma descrição de cada melodia pois estas traduzem estados de alma.
    Convém salientar que os bailes no antigamente eram responsáveis pelo inicio dos namoros, uma vez que durante o trabalho apenas havia uma troca de olhares e quando se chegava ao baile é que se falava e era permitido ao homem solteiro agarrar-se a uma mulher.

    TRAJES

    O trajar em Benfica do Ribatejo no período que retratamos caracteriza-se pelo vermelho da saia de castorina das campinas, no entanto temos vários trajes começando pelas mulheres temos:

    - Campina de domingo – lenço vermelho ou amarelo com ramages ou de caixiné, casaco de “rabo de bacalhau”, avental de popeline bordado ou de rendas, saia de castorina vermelha com pregas ou favos de mel junto ao cós, saiote branco, colotes, nos pés tamancos ou chinelas.

    Tem-se outras variações deste traje, que era usado por um número reduzido de mulheres, as mais abastadas, as quais usavam meias de carapuço e saias plissadas com outras cores. As mulheres mais pobres trajavam com saia de riscado ao domingo pois não tinham posses para comprar uma saia de castorina.

    - pescadora de domingo – chapéu de felpo, lenço de caixiné, blusa com corpete, avental de sarja bordado, saia de lã da praia aos quadrados, saiote, colotes brancos, canos de lã brancos, nos pés tamancos de pau..

    - campina de trabalho – lenço liso de diferentes cores, casaco de “rabo de bacalhau”, avental de riscado, saia de riscado, saiotes de várias cores, colotes, canos e tamancos. No Inverno utilizavam uma saia de embrulhar ou das costas.

    - lavadeira - lenço liso de diferentes cores, casaco simples, avental de riscado, saia de riscado, saiotes de várias cores, colotes e tamancos.

    - pescadora de trabalho – chapéu de felpo, lenço liso, blusa com corpete, avental e saia de riscado com risca larga, saiotes de várias cores, canos de lã brancos e tamancos.

    O homem era mais discreto no trajar, normalmente de cotim, no entanto na nossa região o que mais se destaca é a farda do campino de gala.( Farda entregue pelos Quintas para representação oficial das mesmas nas mais importantes cerimonias, desfile de gado da Casa festas etc etc.

    - campino de gala – barrete verde com orla em vermelho, camisa banca com peitilho ou bordada, jaqueta e calção de fazenda azul, colete vermelho, cinta vermelha, meias brancas e sapato de atanado com esporas.

    - camponês domingo – barrete preto, camisa branca com peitilho, colete preto, cinta preta, calças com polaina, sapatos com salto”à prateleira”.

    - abegão – chapéu de aba larga preto, jaqueta preta com alamares, camisa branca com peitilho, cinta preta, calças com polaina e sapatos de atanado com esporas.

    - lavrador – chapéu de aba larga preto, jaqueta e colete preto, camisa branca, gravata preta, cinta preta, calças com polaina e sapatos com salto à prateleira.

    - pescador de domingo – barrete preto, camisa aos quadrados, cinta de lã, calças de cotim ou pretas , nos pés tamancos de pau.

    - campino de trabalho – barrete verde com orla em vermelho, colete de cotim, camisa de riscado com peitilho, cinta vermelha, calças com polaina, sapatos com esporas.

    - camponês de trabalho – barrete preto, colete de cotim, camisa de riscado, cinta preta, calças com polaina, sapatos com salto “à prateleira”. Neste caso ainda havia um outro tipo de traje que variava deste no colete que passava a ser de zuarte, em vez de calças usava ceroulas e não utilizava sapatos mas sim tamancos.

    - pescador de trabalho – barrete preto, camisa aos quadrados, cinta de lã preta, ceroulas e tamancos.

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